segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Símbolos de cametá.

Em 06 de Agosto de 1971, foi sancionado o decreto Lei – de autoria do então Vereador João Maria Redig – que formaliza os atuais símbolos do Município de Cametá: a Bandeira, o Escudo e o Hino do Município.
___ Breve Histórico da Bandeira de Cametá:
A primeira bandeira municipal foi instituída pelo Conselho Municipal de Cametá no período subseqüente à Proclamação da República. Era constituída da seguinte forma:
·                    Um retângulo branco, com uma estrela vermelha perto do vértice do ângulo reto, paralelo ao topo do mastro que a sustiver.


Em 1971, foi criada a nova e atual bandeira de Cametá, sendo seu traço de autoria do saudoso pintor cametaense Andrelino Cota. A atual bandeira se alinha com a compilação histórica da formação do Município de Cametá. Traz a bandeira em seu traço estes símbolos:
·         A Cruz dos Cruzados: Homenagem a Frei Cristovão de Lisboa, fundador da Vila Viçosa de Santa Cruz de Camutá, em 03/10/1925;
·         O arco e a flecha: Representam as armas de combate dos indígenas que habitavam a região;
·         Os Remos: representam o precário transporte de que se serviram para as conquistas, utilizando o braço forte do indígena cametaense;
·         A Faixa Azul: representa o azul de nosso céu de um azul cobalto luminoso;
·         A Faixa Branca: Simboliza a paz da conquista;
·         A Faixa Verde: representa a riqueza do solo e a beleza da selva amazônica.
                            Imagem: Acervo do Museu de Cametá.
___ O Escudo do Município: Esse importante trabalho foi executado pelas mãos hábeis do cametaense Ivan Veloso, em 02 de Outubro de 1963, que o exibiu a 11 de Dezembro de 1963 com o intuito de ornamentar o salão de reunião do I Congresso dos Municípios da Região Tocantina, realizado em Cametá no período de 12 a 25 de Dezembro do referido ano.
O Escudo do Município era então composto pelos seguintes símbolos:
·         Ao alto, lado esquerdo, representando a bandeira do município de Cametá;
·         A baixo, lado esquerdo, paisagem marítima, com três peixes, representando a nossa produção pesqueira;
·         Ao alto, lado direito, paisagem com o sol nascente representando nossa produção agrícola;
·         A baixo, lado direito, fundo azul com cruz dourada ao centro representando nossa fé Cristã;
·         Bordaduras douradas representando nossas riquezas minerais;
·         Duas palmas entrelaçadas representando dois dos nossos principais produtos agrícolas (sernambi e cacau);
·         Faixa branca, em baixo ao centro, com a inscrição “Município de Cametá”, tendo à esquerda sua data de fundação e à direita a data de sua elevação à categoria de cidade.
                                  


  Imagem: Acervo do Museu de Cametá

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A Linguagem em Cametá


A língua oficial do Brasil é a portuguesa, porém desde o primeiro momento da formação do povo brasileiro, foram se unindo ao léxico português palavras novas, oriundas da cultura de outros povos, entre eles, os mais significativos foram os indígenas e os negros, os quais forneceram muitas palavras para o nosso vocabulário.

O linguajar dos cametaenses possui muitas palavras, em sua maioria, oriundas dos indígenas. O próprio nome do município é de origem indígena: Cametá provém de Camutá (caa significa mato, floresta, bosque, erva; mutá significa degrau, armação construída no mato para espera de caça).

Desse modo, entre os falantes cametaenses, como muitos outros falantes amazônidas, encontramos palavras como: banzeiro (palavra de origem indígena que significa movimento das águas do rio provocado por vento, passagem de barcos ou pela pororoca); beiju (palavra de origem indígena, espécie de biscoito arredondado e achatado, de massa de mandioca); carapanã (palavra de origem indígena, espécie de mosquito); casco (palavra de origem indígena, canoa feita de um só tronco de árvore); jambu (palavra de origem indígena, erva utilizada na culinária da região amazônica, principalmente no tacacá); quiriri (palavra de origem indígena que significa calmaria, silêncio, tristeza); etc.

No entanto, a linguagem em Cametá não está apenas vinculada aos traços culturais dos povos já mencionados. Quão ricas são as manifestações lingüísticas dos cametaenses, que mostram sua criatividade através da criação de palavras e de expressões típicas desse povo. Ora, quem aqui em Cametá nunca ouviu alguém dizer: achi (palavra que exprime espanto, admiração ou dúvida), avortado (grande quantia de. , excesso), bandalhêra (brincadeira, festa, farra ou feitiço de macumba), cuíra (curiosidade, ansiedade),teba (grande, enorme), vergar (dobrar, cair), gaiato (pessoa bricalhona), até por lá (uma forma de despedida), -Que tá parente?Tá bom?(uma forma de saudação), etc.

Esse povo também modifica as palavras em seu falar causando variações sobre a estrutura lingüística no nível da fala, a exemplo disso, temos os seguintes fenômenos lingüísticos encontrados no linguajar dos cametaenses: rotacismo (troca do r pelo l: algum > argum; planta > pranta; etc.), redução das flexões verbais (nós fala, nós vai, nós falemu, nós fala, eles falaru, etc.), simplificação verbal (us velhu, casas grande, etc.), alternância vocálica (e > i: menino > mininu; cemitério > cimitériu; o > u: costume > custumi; boto > butu; boca > buca; doida > duida; etc.), ampliação de significado de palavras dicionarizadas (mamada=pessoa bêbada; bobagem=interesse amoroso por alguém; fantasiado=pessoa bem vestida,etc.)

Enfim, o povo cametaense, através de suas manifestações lingüísticas, torna mais fácil o modo expressivo de transmitir suas idéias e toda essa criatividade não é um erro, é uma marca lingüística da população e nós temos que valorizar e respeitar essa diferente forma de linguagem, pois na língua só há diferenças - como afirma o lingüista Saussure – caso contrário, estaremos sujeitos ao, segundo Ataliba Teixeira de Castilho (estudioso da língua) “complexo de incompetência lingüística”, isto é, o indivíduo não fala porque acha que fala errado, afinal de contas:

(...) não há uma língua certa e outra errada. Cada manifestação lingüística é tão bem estruturada quanto qualquer outra. Dizer “nós vai” e “nós vamos” é apenas uma questão de aceitabilidade – as duas formas podem coexistir, em contextos diferentes; ora, não se vai à igreja da mesma forma que se vai à praia. No dizer das falas modernas, em linguagem tudo é uma questão de adequação afim de justamente se respeitar o outro, mas sem perder a sua identidade em função do outro – isso se chama respeito aos valores culturais alheios. (RODRIGUES, Doriedson. Eles falu errado e nós falemu certo: quando o preconceito vai além da cor. Revista Novo Tempo Amazônia, Cametá/PA, Janeiro/Março de 2002.)

Entretanto, o próprio ambiente escolar não valoriza os caracteres da língua falada pelos cametaenses. A escola apenas ensina a variante padrão da língua, negando ao aluno a formação de ima identidade lingüística. O ensino da língua portuguesa deve, também, levar os alunos a conhecerem outras formas de linguagem, sem perderem a identidade lingüística local. Afinal, em se tratando de linguagem, o certo será aquilo que é adequado ao contexto, pois um indivíduo não falará com o presidente da República da mesma maneira como fala com os amigos em um bar,também, escrevemos um bilhete ou uma carta de amor com as mesmas regras usadas para se escrever uma tese de doutorado. Esse é objetivo do ensino da língua, formar falantes dominantes das várias formas de uso da linguagem, escritores conhecedores das regras utilizadas para a elaboração de textos nos diversos níveis da escrita e indivíduos com uma identidade lingüística local conservada, pois a língua reflete a expressão cultural e os aspectos importantes da visão de mundo do povo que a fala.


Palavras e Expressões do Vocabulário Cametaense:
Achi – exprime uma apreensão, um espanto, uma admiração ou uma dúvida.

Até por lá – uma forma de despedida. A despedida típica do cametauara.

Aré – retrata um descontentamento, uma admiração ou uma desconfiança.

Bandalhêra – brincadeira, festa, farra ou feitiço de macumba.

Beju – espécie de biscoito feito de farinha e mandioca com ou sem pedaços

de castanha do Pará.

Bubuia – termo utilizado para dizer de algo que está boiando na maré.

Buca da nute – diz-se do início da noite, à noitinha, ao cair da noite.

Bucada – indica um ato de comer, fazer um lanche, dá uma mordidinha.

Bumbarqueira – uma grande festa, uma folia sem hora para terminar.

Café simples – café preto sem acompanhamento.

Cametauara – genuíno homem cametaense (homem e mulher).

Chimoa – a parte mais aguada do açaí; o resto do vinho do açaí.

Cuíra – usado para exprimir curiosidade.

Culiar – usado para indicar uma parceria, um conchavo, uma união.

Curuatá – utensílio utilizado para ralar a mandioca para fazer a farinha.

Estorde – algo diferente do costumeiro, que não é normal.

Fato novo – novidade, criação nova, nova composição musical ou literária.

Ficar de mutuca – ficar vigiando, ficar alerta, ficar atento.

Fifiti – mapará pequeno, aquele mapará miúdo.

Fornada – uma seqüência de canções seguida de um intervalo. O Samba de Cacete é constituído de várias fornadas.

Fuliar – tocar e cantar folias religiosas.

Fulhanca – grande festa.

Gaiatice – brinacdeira.

Ilharga – significa estar ao lado.

Impinimar – zangado, aborrecido.

Indireitar – concertar, arrumar.

Ispiciá – o mesmo que especial.

Ladino – refere-se a uma pessoa muito inteligente, ativa, perspicaz.

Lançante – indicado para designar maré alta.

Malamá – meio termo, mais ou menos, um pouquinho.

Malineza – maldade, crueldade.

Mariscar – coleta de alimentos realizada pelo povo ribeirinho.

Mizura – uma pessoa que faz movimentos estranhos; engraçado, gaiatice.

Mundiar – pessoa ou um animal que está sendo vigiado para ser atacado ou enfeitiçado.

Novena – ato religioso composto por nove dias de rezas e um dia de festejos conhecido como o “dia da festa”.

Paragi – lugar, lugarejo, localidade.

Parente – termo utilizado para cumprimentar com cordialidade o nativo.

Pavulagem – metido, soberbo.

Peitada – atarefado, ocupado, trabalhando, fazendo algo.

Piririca – lábios com resíduos de mingau, açaí, frutas ou outra coisa.

Potoca – mentira.

Pudê – muita coisa, muita gente.

Ralhar – chamar a atenção de alguém que fez algo errado.

Remanchiar – chegar mansamente sem ser percebido, ir com cuidado.

Reinar – ficar com raiva, ficar zangado.

Rudiá, rudiando, rudiado – andar em volta de alguém ou de alguma coisa.

Rumpança – violência, raiva.

Sordir – surgir, inventar, sugerir, criar.

Sumano, suprimo, suprimote – saudação típica cametaense, tratamento genuinamente cametaense.

Téba, tebudo – grande, enorme, avantajado.

Teité – coitado.

Teitei – cheio, lotado, transbordando.

Teteé – estar à toa.

Varrição – final de uma festa, despedida da festividade, os últimos momentos de folia.

Vergar – dobrar, cair.

A CABANAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS EM CAMETÁ



A Cabanagem é a Revolução popular mais importante da Amazônia e está entre os mais significativos movimentos de contestação da política Brasileira no período imperial. Explodiu depois da declaração da independência do Brasil, pela insatisfação dos povos tradicionais da Amazônia diante do despotismo do Governo Central que insistia em negar aos habitantes mais antigos da região o direito da cidadania. (Pasquale Di Paolo).

As agitações chegaram ao interior onde também os nativos paraenses não mais aceitavam a presença de portugueses nos cargos da administração pública e onde negros aquilombados e demais miseráveis viam nos ideais da independência uma esperança de liberdade e melhores condições de vida.

Cametá, então, tomava corpo da revolução, uma vez que, contagiados pelos ideais de liberdade, os cametaenses viveram até a hora da independência, momentos cheios de dúvidas. A chacina do Brigue Palhaço em outubro de 1823, aterrorizou os paraenses e, de Cametá partiu um grito de revolta. Ao saber da ocorrência a Junta Governativa da Província mandou para Cametá, a 30 de outubro do mesmo ano, uma barca artilheira com 30 soldados e 40 marinheiros com ordem para bombardear a Vila, provocando verdadeiro pânico e até evacuação da então Vila de Cametá. Mas os cametaenses resistiram ao ataque.

Um dos grandes filhos de Cametá, D. Romualdo Coelho, com seu imenso prestígio, procurou pessoalmente apaziguar as manifestações, ganhando êxito por alguns momentos. Logo porém, com as violências de legalistas externos e locais contra os patriotas de Cametá, quando reajustada a obra de paz, deu-se o fracasso da missão pacificadora de Dom Romualdo e este protestou com alma perante o governo.

O clima de insatisfação por parte dos cametaenses perdurou por vários anos até a eclosão do movimento nativista que passou a história com o nome de Cabanagem, quando na noite do dia 07 de Janeiro de 1835 os cabanos invadiram e tomaram a cidade de Belém, assassinando o presidente da Província, Bernardo Lobo de Souza.

O Primeiro Governo Cabano teve como presidente foi Felix Antônio Clemente Malcher (07/01 a 19/02/1835), o qual fora deposto e preso por seus próprios companheiros; assumindo a presidência Francisco Antônio Vinagre (21/02 a 20/06/1835). O terceiro e último presidente cabano foi o jovem Eduardo Angelim (23/08/1835 a 13/05/1836).

Da mesma forma que se colocou oposta ao governo da Província quando do massacre do Brigue Palhaço e contra os desmandos governamentais, Cametá se viu também estarrecida com alguns atos de verdadeira selvageria provocada pelos Cabanos em Belém e outros locais da Província e assim transformou-se Cametá, de foco de idéias e lutas nativistas, em um centro de defesa da legalidade.

Ao comando do Padre Prudêncio das Mercês Tavares, “O Padre Coronel – Comandante do Batalhão do Norte”; Cametá tornou-se um dos principais pontos de resistência à Cabanagem. Padre Prudêncio chegou a arquitetar um plano militar para retomar Belém que ora se encontrava sob o poder Cabano. Padre Prudêncio comandou pessoalmente a morte de mais de centenas de cabanos na região de Cametá, evitando juntamente com as forças legalistas a invasão de Cametá; a qual é conhecida na história como “A Cidade Invicta”, aquela que resistiu aos cabanos; chegando a ser erguido na praça da cidade um monumento em homenagem ao Exército Legalista. Já em Belém existe um monumento em homenagem aos Cabanos.

Alguns cametaenses se orgulham do título de “Cidade Invicta”. Outros fazem ressalvas dizendo que Cametá, local onde tiveram início as primeiras revoltas do movimento cabano, anos depois se colocou contra os cabanos, que eram os legítimos paraenses. E Padre Prudêncio, que comandou a chacina de centenas de paraenses cabanos?

Pense, analise, o Museu é História Viva e feita não apenas para gerar e difundir respostas a respeito dos dilemas de nosso passado e presente mas, e principalmente, para fazer surgir novas dúvidas e interpretações e, dessa forma, nos fazer pensar no papel desempenhado pelo homem no decorrer da História.